domingo, março 13, 2011

Olhos azuis

Quis ver de perto esses teus olhos,
Simultaneamente profundos e tristes,
E te falar de uma saudade apertada
Que tem o azul da cor do mar

Quis compartilhar teus olhares serenos
A carregarem o peso do mundo
Na fé de um mundo que não existiu

Quis sentir a mesma tristeza que sentes,
Nos horizontes já comuns e ofuscados
Que se perdem no espaço descontínuo
De tantos sonhos riscados e rasgados

Quis viver a sensibilidade de teu jeito
E resgatar teus sonhos maltratados
Para construir a esperança de um novo mundo

Despedida

Era necessário que eu te abraçasse forte
Porque não podia ir-me sem ser despedida
E era tão importante para mim
Perceber que realmente acabou
Que tudo tem o seu fim
Era preciso convencer-me que teu riso
Não mais me acompanhará
E era essencial ainda que eu
Pudesse me despedir da parte de mim
Que ficou presa ao vento e ao mar
E não vai regressar
Se foi bom enquanto durou
O lampejo de uma lembrança
Que agora eu possa voar livremente
Pois não carrego comigo sequer
A culpa de quem nunca tentou
E se demorei tanto a ir
Não foi porque não devia
Foi porque ainda mantive a esperança
Teimosa e insana
Mas nem a esperança agora restou.

terça-feira, março 08, 2011

Para Florbela, sob a luz que se apaga

"Procurei o amor e ele me mentiu"
Florbela Espanca

Amor ingrato e até cruel
Lâmina insensível e fria
Ponta de lança em fel
Cresce na dor que cria

Ferro em brasa a marcar
O coração em carne viva
Que caiu no erro de amar
Flecha que no peito se criva

Esperança que cedo termina
Felicidade que se extemina
Sonho bom que logo desfaz

Sofre ainda dor da saudade
Amor, rei de toda a maldade
Esmaga o peito uma vez mais

Espectro sombrio

Se me restasse apenas uma hora de vida,
você abandonaria tudo para me ver?
Se eu tivesse que partir de repente,
você viria me dar o abraço final?
Se de mim restassem apenas pedaços,
você os juntaria?
Se eu tivesse que morrer amanhã,
me darias a mão para eu fosse em paz?